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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

FODIDO E XEROCADO: A CENA PUNK REVELADA


PUBLICADO NO SITE


26 Fevereiro, 2008



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Criado originalmente como um fanzine fotográfico de registros da cena punk de São Paulo - berço de importantes bandas como Olho Seco, Cólera e Ratos de Porão - o livro Fodido e Xerocado de Daigo Oliva e Mateus Mondini traz mais de 100 imagens que retratam toda fúria e essência desse estilo musical. Confira a conversa que tive com eles sobre o projeto.


Quando e como surgiu a idéia de montar um fanzine fotográfico?


Daigo: A idéia surgiu a pouco mais de um ano. Nós tínhamos em mente a referência de idéia do Glen E. Friedman do zine My Rules, que fez esse tipo de fanzine já no começo dos anos 80. O modelo de como o zine é feito não foi copiado do My Rules, é apenas uma questão de referência. Lógico que depois a gente descobriu uma tonelada de fotozines como as versões americanas e européias da Maximum Rock n Roll e um maravilhoso zine chamado Loud 3D, todo feito de fotos com um óculinhos pra ver em 3D. Genial. Mas a questão é que no Brasil nunca teve esse tipo de documento do punk nacional, da cena em geral, e a gente decidiu começar a fazer alguma coisa.

Mateus: Há alguns anos eu tenho vontade de colocar no papel minhas fotos, mas nunca fazia nada… Há pouco mais de um ano, o Daigo sugeriu de fazermos um zine com nossas fotos e começou o Fodido e Xerocado.
Hoje em dia tudo está muito na Internet: single virtual, demo de myspace…. e com nossas fotos estava acontecendo o mesmo. Fotolog, Flickr e mais nada. O zine foi o jeito de dar uma materializada na coisa, é como se fosse um sete polegadas da nossa banda.

Daigo: Falta isso hoje, algo para poder ler cagando. Veja bem, a gente não é contra as evoluções da internet, muito pelo contrário, mas nós sentimos falta dos documentos não digitais.

Por que a escolha do punk?

Daigo: Não foi uma escolha. Não é algo em que você pensa: “vou me dedicar a esportes, cultura, ou punk?”. O Mateus e eu estamos atolados no punk até os ossos, é o nosso dia a dia, nossa vida. Foi algo natural começar a fotografar aquilo que a gente vive.


Mateus: O punk entrou na minha vida muito antes da fotografia, nunca pensei em fotografar o punk. Não deixei de fazer ou fiz alguma coisa por causa dessas fotos, as fotos que tem no zine são de shows que iria mesmo se não fosse fotógrafo.

Shows punks ainda são normalmente relacionados à violência. Para vocês que acompanham de perto, essa é uma realidade ou um mito que se criou devido à falta de informação?Mateus: Acho que hoje em dia, tudo que envolve grupos de jovens têm violência. Seja torcida de futebol, escola de samba, danceteria de playboy ou show punk. A agressividade é uma característica do punk, mas a violência não necessariamente.


Daigo: Acho que rola um pouco dos dois. Rola violência e rola muito mitificação em cima. Para nós, a violência nos shows e no rolê é muito menor do que as pessoas enxergam ou pensam existir. Porém, para a minha avó, é tão gigante como a guerra do tráfico. Tudo depende de uma noção de referência. Que existe a violência, é evidente, vira e mexe tem briga, morte, facada. Mas isso não é a tônica da coisa, o que marca a cena punk hoje em dia. Se você pegar o Botinada pra ver, todos os punks do começo se dedicam muito a falar da violência, das brigas. Hoje em dia mudou muito, se dá uma ênfase muito maior na produção musical que vem do punk, no faça você mesmo, nos shows, no que as pessoas estão produzindo.


Como surgiu a idéia de transformar o zine em um livro?


Mateus: A idéia foi do nosso amigo Thiago Dar, da Cospe Fogo. Desde o primeiro zine ele fala na nossa orelha que queria fazer um livro com nossas fotos, mas não sabíamos se era real ou só papo dele… Deu no que deu.
Qual foi o processo de seleção das fotografias que entrariam no livro?Mateus: Foi o mesmo processo de quando fazemos o zine, fotos que gostamos, de bandas que gostamos e que sejam ou tenham forte ligação com o punk.


Daigo: A produção do livro é que foi bem complicada. Quem cuidou do tratamento das fotos foi o Guilherme Chapado e ele trabalha numa gráfica no período da madrugada. Ou seja, a gente ia na calada da noite para a Barra Funda ficar montando o livro até 4h30, 5 da manhã, umas 2, 3 vezes por semana. Foi uma época em que eu dormi pouco, mas que foram as mais engraçadas também. O legal das fotos, e creio que para muita gente que está na cena punk também, é que é possível identificar nas imagens muitos rostos conhecidos e lembrar-se das histórias, de uma época, de parte da sua vida. Durante a produção foi a mesma coisa. Mateus e eu, Chapado, Thiago Dar e o Loly (o outro cara que cuidou da produção do livro) rindo e contando os casos a partir das fotos. Vou guardar essa época sempre comigo.


Dentre tantos shows, qual o preferido de cada um?

Daigo: Shows inesquecíveis para mim sempre serão os do Flicts no Hangar. Mas tem vários que eu gosto muito: O Inimigo, Clorox Girls, Ratos de Porão, Garage Fuzz, I Shot Cyrus, Boom Boom Kid…


Mateus: Tenho uma lista bem grande de shows preferidos, mas acho que pelo conjunto da obra voto no Clorox Girls em Salvador, em agosto do ano passado.


Na opinião de vocês, em que momento da história a cena punk brasileira - influênciada na sua maioria por bandas inglesas -assume uma identidade nacional?


Mateus: Final dos anos 70, ditadura militar, instrumentos e estúdios ruins, informação vindo de navio e um calor do caralho… o punk aqui sempre teve identidade própria, tanto estética quanto musical.


Como vocês vêem a cena punk hoje no Brasil?

Daigo: De forma muito positiva. Cada vez mais bandas boas, mais shows organizados, mais gente se movimentando. Cidades do Brasil que nunca pensaram em fazer parte de um “circuito” de shows, hoje já podem ser inclusos. Bandas de fora vêm e tem um tratamento, no mínimo, honesto. Creio que seja coincidência, mas mais zines surgiram junto ao Fodido e Xerocado. O problema é a continuidade, o quanto vai durar, a disponibilidade de dinheiro para fazer.


Para finalizar, está nos planos o lançamento de novos volumes do livro?

Mateus: Livro no momento não, mas o zine não pára, de dois em dois meses tá aí.

Daigo: Ah, só daqui a uns 3, 4 anos. Mas pra ser um livro definitivo, que vá ficar de verdade ao longo do tempo. Esse aí foi só um tira gosto.

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