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quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

GREGORY CORSO

Nasceu em 1930, no Greenwich Village, em Nova York. Filho de uma família paupérrima, passou a infância em orfanatos e reformatórios e mais tarde foi adotado por várias famílias alternadamente. Não escreveu uma autobiografia, mas revisitou a casa natal:

"Permaneço parado na luz escura da rua escura
De sobretudo e cigarro no canto da boca
Chapéu sobre os olhos, um berro na mão
Cruzo a rua e entro no prédio,
As latas de lixo continuam cheirando mal (...)"

Em 1958, Jack Kerouac escreveu: "Considero Gregory Corso e Allen Ginsberg os dois melhores poetas da América. Corso é um garoto durão nascido no Lower East Side que cresceu como um anjo acima dos telhados e canta canções italianas tão lindas qanto Caruso ou Sinatra, só que com palavras de sua alma renascentista." Seymour Krim, que o considera "imprevisível e inclassificável", escreveu: "Contraditório em tudo, Corso reúne um inacreditável refinamento verbal e um talento excepcional ao encanto endiabrado de um moleque de rua." Atualmente, continua sem residência fixa, sem CPF, sem grana e sem destino. Perambula pelos EUA em companhia do filho Max Orfeo.
Bibliografia: The Vestal Lady of Brattle (1955), Gasoline (1958), Bomb (1958), The Happy Birthday of Death (1960), American Expresse (1961), Long Live Man (1962), Elegiac Feelings América (1965), Earth Egg, The Notebook.

(Alma Beat, L&PM, 1984)

DE VISITA AO LUGAR DE NASCIMENTO

De pé na luz fraca da rua escura
olho para minha janela no alto foi lá que nasci.
As luzes estão ecesas; outras pessoas se movimentam ali.
Vestido com capa de chuva, cigarro na boca,
chapéu caído nos olhos, a mão na arma.
Atravesso a rua e entro no prédio.
As latas de lixo não pararam de cheirar mal.
Subo o primeiro lance de escadas: Lóbulos-Sujos
me ameaça com sua faca...
Eu lhe despejo uma torrente de relógios esquecidos.

ALÔ

É desastroso ser um cervo ferido.
Eu estou muito ferido, os lobos rondam
e tenho meus fracassos também.
Minha carne ficou presa no Gancho Inevitável!
Quando criança vi todas as coisas nas quais não queria me
transformar.
Serei a pessoa que não desejava ser?
Aquela pessoa que-fala-sozinha?
Aquele de quem os vizinhos caçoam?
Serei eu aquele que, nos degraus do museu, dorme de lado?
Estarei usando aroupa do cara que falhou?
Sou um sujeito lunático?
Na grande serenata das coisas,
serei a passagem mais cancelada?

NAS MÃOS ESTÁ MINHA CIDADE

Nas mãos está minha cidade, minha lira
E em minhas mãos está a pira
E minha mãe ouve Corelli
enquanto minhas mãos estão em chamas

O NOVA-IORQUINO

Ele está em Cambridge
E agora bate em minha porta
Ele é o cara de Nova York;
tem olhos enormes de neon
seu olhar despeja
jazz pelo meu chão
Mas ele estava mesmo lá?
Podia ser um rádio,
ou um órgão de fundo
ali alucinado.

Podia ser eu mesmo
me visitando em pleno jazz,
com receio de bater.

"CAVALO COM LEITE"

Num quarto a colher sobre o fogo
A cozinhar o desejo secreto.

Tudo cozido, ele apanhou um cinto
e correu antes do cavalo derreter.

O cinto foi preso em volta do braço;
a agulha bem limpa para não haver danos

e apertando, apertando, uma veia surgiu.
Com uma puxada o braço começou a doer.

Com mão firme ele esperou inchar -
esperou o sonho que a si orfertava.

E então a agulha avançou plenamente
Mas o cavalo tinha leite, e não deu barato.

Ele foi ao chão sem fazer ruído,
e girou os olhos como um carrossel.

Então se esfregou e sacudiu e puxou os cabelos,
vomitou ar, nada mais do que ar.

No fundo da noite ele rolava e rugia.
Ó alma, você nunca esteve tão chapada neste mundo.



fonte: Gasolina & Lady Vestal, L&PM, 1985

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